quinta-feira, julho 31, 2014

Uma saída para Muricy Ramalho

Alexandre Pato é craque. Talvez não seja o jogador que eu e muitas pessoas pensávamos que fosse ser quando surgiu, mas é craque. Seu problema, que durante os anos de Itália se mostrou físico, hoje em dia está bem evidente: é emocional, é comportamental. Contudo não podemos colocar tudo na conta da cabeça dele e ignorar outras questões, como a parte tática, por exemplo.

Pato apresenta uma certa limitação tática. Não é ponta, nem centroavante. Fica no meio do caminho. Quero dizer, até vejo nele um centroavante. Vejo nele muito mais um camisa 9 do que um segundo atacante ou um ponteiro. Entretanto não há como negar que ele não sabe jogar de costas para o gol, uma das funções do centroavante quando o time avança em bloco e mantém a posse no campo ofensivo. Em outas palavras, rende mais em esquemas com dois atacantes (4-4-2, 3-5-2) do que com três (4-3-3, 4-2-3-1).

Na vitória por 2 a 1 sobre o Bragantino, nesta quarta-feira, pela Copa do Brasil, em Ribeirão Preto, Muricy Ramalho trocou o habitual 4-2-3-1 pelo 3-5-2, um velho conhecido seu dos tempos do tricampeonato brasileiro pelo próprio São Paulo. Não sei exatamente o que levou o treinador tricolor a fazer essa escolha, mas sei que essa alternativa pode ser mais pertinente do que aparenta, para o restante da temporada. Insisto: não sei se foi algo casual ou se Muricy pretende adotar essa estrutura daqui pra frente. Só sei que – veja você, logo eu que abomino esquemas com três zagueiros – essa estrutura de ontem à noite pode encaixar de vez a equipe na temporada.

Esse na prancheta foi o time que enfrentou o Bragantino. Rodrigo Caio entre Paulo Miranda e Rafael Toloi, Maicon e Souza volantes, Ganso "enganche", Douglas e Alvaro Pereira nas alas, além dos atacantes Ademilson e Pato. O desempenho coletivo não foi brilhante. Longe disso. Porém quase todas as vezes em que os camisas 10 e 11 se aproximavam, coisa boa saía dali. Vários lances – ou pelo menos alguns, não vamos exagerar – envolvendo Ganso e Pato diretamente, na base da movimentação, da inteligência e da qualidade técnica, levaram perigo ao adversário (por pouco não pintou um golaço no primeiro tempo, numa jogada entre eles e Rodrigo Caio, numa escapada do zagueiro/volante ao ataque). Embora não tenha feito uma partida primorosa individualmente, de fato Pato se encontrou melhor nessa formação.



Mudando um pouco de pato pra ganso, o que mais me chamou a atenção nesse jogo foi a participação de Ganso. Em vários momentos ele voltou à linha dos volantes, eventualmente até atrás de Maicon e Souza, para buscar o jogo e dar início às jogadas. Em vários momentos Ganso apareceu à frente da zaga pedindo a bola no pé, erguendo a cabeça e clareando a saída com passes curtos, médios e até longos, como num lançamento à la Gerson na primeira etapa, justamente para Pato, que não conseguiu dominar a criança.

Quem me acompanha pelo Twitter sabe que, por mim, Ganso jogaria mais recuado. Na minha visão Ganso não é esse camisa 10 que tem que entrar na área que Muricy tanto fala (publiquei um post sobre isso em fevereiro, aliás). Para mim esse discurso do treinador é dar murro em ponta de faca. Se dependesse de mim, independente do esquema tático, Ganso formaria a dupla de volantes com Souza, e Maicon iria para o banco. Não creio que ele viraria o melhor volante do mundo da noite para o dia. Não é isso. Esse mudança exigiria tempo para Ganso se adequar à posição. A cada dia que passa, a cada jogo que vejo, no entanto, tenho mais certeza de que o meio-campista do São Paulo precisa ser no mínimo testado mais atrás.

E é aí que entra minha animação com a possibilidade do 3-5-2 (quem diria, hein). Porque, apesar de eu discordar com veemência dessa afirmação tão corriqueira quando levanto essa hipótese, muitos dizem que com Ganso volante o time ficaria sem poder de marcação (repito: abomino essa tese, para mim Ganso faz tudo que Maicon faz, só que melhor). Para compensar essa suposta fragilidade na marcação, portanto, nada mais conveniente do que um esquema com três zagueiros, sendo que um deles, Rodrigo Caio, pode trabalhar como híbrido. Mal comparando, pode ser o Rafa Marquez do São Paulo, no sentido da variação tática. Dependendo do desenrolar da partida, Caio pode se descolar da linha de três da zaga e se somar ao setor do meio campo. Há um porém nesse caso: isso só aconteceria com eficiência se o time estivesse bem treinado e entrosado, e para isso seria preciso treinamento e repetição, convicção e sequência.

Dessa maneira, a posição que foi de Ganso diante do Bragantino, seria ocupada por Kaká. Um 3-5-2 (veja aqui) com Toloi, Rodrigo Caio e Antonio Carlos na zaga, Souza e Ganso volantes, e Kaká à frente deles, atrás da dupla composta por Pato e Kardec (lembre-se: Pato rende mais formando uma dupla do que num esquema com centroavante e pontas). Dessa forma, Ademilson iria para o banco. Ademilson que, veja você, é escalado mais pelo que faz sem a bola do que pelo que faz com ela. Uma senhora na inversão de valores! Prioriza-se jogadores que fazem o trabalho sujo, sem a bola (marcar lateral virou um parto, é o novo bicho de sete cabeças do futebol brasileiro), em detrimento de atletas que sabem o que fazer com ela no pé. Enfim. Como disse, não sei se Muricy pretende utilizar esse 3-5-2 daqui pra frente. Só sei que é uma baita saída, uma opção pra lá de interessante – desde que Ganso jogue mais recuado, no lugar de Maicon, e Pato compunha o ataque, no lugar de Ademilson, ao lado de Kardec (ou Luis Fabiano).

sábado, julho 26, 2014

Anderson Talisca, o meio-campista

O primeiro jogo de Anderson Talisca que vi com atenção, se não me falha a memória, foi nesse Brasileirão. Foi contra o Flamengo de Ney Franco, em Macaé, no Moacyrzão. Meia de origem nas categorias de base do tricolor baiano, nessa partida, válida pela 6ª rodada, ele foi escalado por Marquinhos Santos como falso nove. Sua movimentação, seu posicionamento, sua função nesse dia, inclusive, me lembrou o papel de Ibrahimovic no PSG, e resultou no post Dare To Talisca, publicado em maio. Nessa pré-temporada do Benfica, no entanto, Talisca tem jogado como volante.

Marquinhos Santos deve ter tido seus motivos para avançar Talisca num jogo aqui, noutro ali, assim como Jorge Jesus deve ter suas razões para recuar o atleta de 1,88m. Claro, ainda é cedo para dizer se ele será "recuado" de vez no clube português, mas o fato é que, nessa pré-temporada, o camisa 30 tem trabalhado como segundo volante, num esquema com duas linhas de quatro e dois atacantes.

Diante do Ajax, neste sábado, em Lisboa, pela Copa Eusébio, atuando dessa maneira, mais atrás do que nos tempos de Brasil, com Amorim ao seu lado, mais preso, Talisca pôde mostrar a qualidade da sua visão de jogo e do seu passe vertical, elementos fundamentais para se sobressair pela faixa central (para mim foi o melhor em campo).



Talisca nasceu no ano do Tetra. É de 94. Tem 20 anos. E está chegando agora à Europa, onde o futebol em sua vertente tática é praticado em outro nível, num nível bem acima do que é praticado no atrasado futebol brasileiro. Portanto pode ser que ele leve um tempo para assimilar o jogo jogado, para assimilar o conceito de ocupação de espaços na sua essência, etc. Graças a sua inteligência futebolística e a sua comprovada capacidade técnica, porém, não acredito que ele terá problemas de adaptação dentro das quatro linhas (detalhe: Talisca já é o cara da bola parada).

Enfim. Não quero me precipitar, mas me parece jogador de Seleção. É digno desse rótulo. Logo, logo deve pintar na convocação. Trata-se duma promessa virando realidade, em processo de lapidação, que cedo ou tarde encontrará a posição onde rende mais coletivamente. Caberá ao treinador encontrar o lugar onde ele rende mais para o time e definir o posicionamento onde suas virtudes são melhores exploradas. A princípio, a julgar pela pré-temporada 2014/15, esse posicionamento é mesmo o de segundo volante. Entretanto confesso não descartar a possibilidade de, no futuro, Talisca recuar ainda mais e virar cabeça de área (mal comparando, à la Pirlo). Vamos ver. Seja como for, as expectativas, pelo menos as minhas, em relação a sua carreira na Europa, são excelentes.

quarta-feira, julho 23, 2014

Os craques da Copa 2014

Messi foi eleito o melhor pela FIFA.

Robben foi eleito o melhor pela maioria.

E James foi o artilheiro com 6 gols em 5 jogos.



Sem dúvida, os três grandes destaques individuais do torneio.

terça-feira, julho 22, 2014

O craque da camisa 10

James Rodríguez chega ao Real Madrid aos 23 anos de idade, por nada mais nada menos que € 80 milhões. Lembre-se: do Porto ao Monaco, foi vendido por € 45 milhões.

Confira lances dele na carreira.



Veja aqui a prancheta dum possível time com o camisa 10 canhoto.

segunda-feira, julho 21, 2014

Possível Real Madrid 2014/15

As chegadas de Kroos e James devem significar as saídas de Alonso e Di María do XI inicial. Até onde se sabe o argentino deve mesmo ser negociado, portanto essa é uma perda definitiva (fala-se em PSG). Já o espanhol de 32 anos de idade deve encarar com naturalidade essa passagem de bastão, que deve ocorrer gradativamente ao longo da temporada 2014/15 (Pepe também pode passar o bastão para Varane). Mas as mudanças no Real Madrid não devem parar por aí, não devem passar apenas pela troca de jogador por jogador: é provável que haja mudanças na parte estrutural da equipe.

Quando chegou ao Madrid, Carlo Ancelotti estruturou a equipe no 4-3-3. Demorou algumas rodadas para encontrar o chamado time ideal, é verdade, mas acabou definindo o 4-3-3 como sistema padrão. Durante boa parte da temporada passada esse foi o esquema adotado (veja aqui), com Alonso na cabeça de área, Modric na meia direita, Di María na meia esquerda, Bale na ponta direita e Cristiano Ronaldo na ponta esquerda, além do centroavante Benzema. Na reta final da temporada, todavia, o 4-3-3 deu lugar ao 4-4-2 em linha, com Di María (ou Isco) deslocado de vez à extrema esquerda, e CR7 adiantado ao ataque (veja aqui). Inegavelmente o time cresceu de produção dessa forma. O Bayern de Guardiola que o diga. Com Kroos e James, e sem Di María, porém, pode ser que estes dois esquemas, o 4-3-3 e o 4-4-2, virem os planos B e C a partir de agora, sendo considerado o plano A um velho amigo madridista: o 4-2-3-1, utilizado nos tempos de Mourinho e Özil.



Partindo do princípio de que Di María vai mesmo deixar los blancos, e de que o alemão e o colombiano serão titulares, se Ancelotti pretende manter o 4-4-2 em linha, só consigo pensar numa alternativa: Bale, Modric, Kroos e James na linha de quatro do meio campo. Na prática, Kroos ocuparia o lugar de Alonso e James o de Di María. Em outras palavras, James seria deslocado à beirada. James é polivalente, eu sei, já jogou assim no Porto, inclusive, e pode render por ali. Mas para atuar por ali é mais pertinente ter um atleta de velocidade e condução, como é Di María ou Cristiano Ronaldo, por exemplo. James pode render bem pelo flanco? Pode. Claro. Mas sua característica é de meia, ele é muito mais meia do que ponta. Insisto: o rendimento dele pode ser alto por ali, aberto à esquerda. Esse suposto 4-4-2 em linha com James e Bale wingers poderia dar certo. Teria tudo para dar certo. Contudo, no fim das contas, me pareceria um certo desperdício escalar o garoto de € 80 milhões dessa maneira.

Outra maneira seria a seguinte.

Partindo do princípio de que Di María está mesmo saindo, e de que o alemão e o colombiano serão titulares, se Ancelotti quiser voltar ao 4-3-3, vejo essa alternativa: Modric na cabeça de área (ou Alonso), com Kroos e James lado a lado, além de Bale e Ronaldo nas pontas, e Benzema na referência. Poderia dar samba. A exemplo do 4-4-2 em linha por mim ventilado, esse hipotético 4-3-3 poderia dar certo, sem dúvida (confira aqui). Entretanto me parece mais uma opção eventual do que uma regra, mais uma opção a ser utilizada dependendo do contexto da partida, uma vez aqui, outra ali, do que um esquema padrão (pelo menos não com essas peças nessas posições, não com Kroos e James lado a lado). Enfim. Não li nem ouvi Ancelotti falando nada a respeito. Trata-se apenas de especulação da minha parte. Se eu não estiver enganado, porém, com Kroos e James no mesmo XI, o 4-2-3-1 da prancheta acima deve ser o sistema tático escolhido. A conferir.

sábado, julho 19, 2014

O novo Barcelona do novo Messi

Suárez na ponta direita e Messi falso nove, ou Messi na ponta direita, como nos velhos tempos, de início da carreira, e Suárez centroavante? Em princípio me perguntei isso, e cheguei à conclusão de que Suárez faria a ponta direita e Messi seria o falso nove, uma vez que no Liverpool, quando o time jogava no 4-1-4-1, o uruguaio fazia o flanco de campo e Sturridge era referência. No entanto, a julgar pela matéria do Sport, minha conclusão aparentemente se mostrou equivocada.

Pode ser que Luis Enrique troque o enraizado 4-3-3 pelo 4-4-2 em losango, esquema tático utilizado por Sabella em alguns jogos da Copa do Mundo. Segundo o jornal catalão, o novo treinador do Barça pretende aproveitar o último passe do camisa 10, escalando-o atrás da dupla de ataque formada por Suárez e Neymar. Se partirmos do sensato princípio de que Busquets, Rakitic e Iniesta são titulares absolutos, me parece que a única alternativa seja esse 4-3-1-2 mesmo.



Embora eu seja fã do 4-3-3, de esquemas com pontas legítimos, admito que não tinha pensado nessa hipótese do 4-4-2 em losango, e confesso que gostei. Com a trinca Busquets-Rakitic-Iniesta atrás e a dupla Suárez-Neymar na frente, Messi não seria tão exigido sem a bola, já que em regra ele teria de marcar o primeiro volante adversário, enquanto que com a bola sua principal função seria municiar os camisas 9 e 11. E, convenhamos, qualidade para isso o gênio argentino tem de sobra.

Esse provável novo posicionamento de Messi no Barça poderia tirar dele sua capacidade goleadora. Em contrapartida poderia beneficiar o coletivo. Com Messi (e Iniesta e Rakitic) vindo de trás, Suárez e Neymar, exímios artilheiros, finalizadores natos que são, teriam muito mais oportunidades de balançar as redes do que se tivessem jogando nas beiradas. Claro, há o efeito colateral. O problema de se jogar sem wingers/pontas é que, sem a bola, você oferece os flancos aos laterais adversários. Contudo essa, digamos assim, “falha”, pode ser compensada com a contenção dos carrilleros Rakitic e Iniesta. E a partir do momento em que os laterais adversários sobem, surgem espaços às suas costas para que Suárez e Neymar possam deitar e rolar.

Enfim. Sem querer duvidar da informação do Sport, só saberemos se Luis Enrique de fato tem em mente essa equipe quando a temporada começar (ou melhor, quando Suárez estiver liberado pela toda-poderosa FIFA). Seja como for, em função das características de seus homens de frente, é bem possível que o Tiki-Taka azulgrená esteja com seus dias contados. E é bem possível que, com Messi enganche, Neymar e Suárez marquem uns mil gols por jogo. Aliás, se até o momento o brasileiro não conseguiu apresentar seu repertório goleador com a camisa culé, pode ter certeza de que, com Messi enganche, essa faceta vai dar as caras a partir de agora.

quinta-feira, julho 10, 2014

Uma final à altura da Copa

É mais difícil a Argentina passar pela Holanda do que pela Alemanha. Escrevi isso algumas vezes no Twitter, entre o 7 a 1 eterno, desde que o primeiro finalista foi definido, e a partida desta quarta-feira, na Arena Corinthians. Escrevi que era mais difícil a Argentina passar pela Holanda do que pela Alemanha porque o time treinado por Van Gaal é muito mais pragmático, burocrático, e se defende muito melhor.

Ou melhor, não sei se "se defende melhor" é a colocação correta, mas o fato é que a Holanda de Van Gaal oferece menos espaços ao adversário do que a Alemanha de Löw. No 3-5-2 holandês, algumas vezes com os alas alinhados aos zagueiros, o campo defensivo laranja está quase sempre preenchido, com os espaços estrategicamente ocupados, para que os craques da frente possam decidir. Deu certo ao longo da Copa do Mundo, porém não contra a Argentina.

A Alemanha, em contrapartida, não tem no ataque (setor) seu ponto forte, apesar de Müller. O diferencial alemão, como você sabe, é o meio campo. São os dois meio-campistas do Bayern (Schweinsteiger e Kroos), e o volante do Real Madrid (Khedira), que fazem o jogo acontecer. Quando eles saem para o jogo, a equipe toda avança, em bloco, para manter a compactação, e em função disso, oferecem espaços aos adversários. E quando o avanço em bloco não é bem feito (lembre-se, ninguém é perfeito), abrem-se espaços entre os setores. Ou seja, os espaços que não existiram diante da Holanda devem dar as caras na finalíssima, para a Argentina.

Sim, Messi não conseguiu jogar contra a Holanda. Aliás, ele ainda não se apresentou no padrão Messi nessa Copa. Foi decisivo em vários confrontos, tem quatro gols na competição, assistência, mas ainda não atuou no padrão Messi. Em especial contra a Holanda, o time que melhor sabia se defender na Copa, e o time que tinha De Jong. Claro, o duelo não foi apenas De Jong vs Messi. Sempre que Messi pensava em tocar na bola, De Jong já estava em cima, com no mínimo mais um na cobertura. A tarefa de De Jong era clara: parar Messi. E até certo ponto essa tarefa com cumprida. Projetando a final do Maracanã, no entanto, não vejo nenhum jogador alemão com o poder de marcação/destruição de De Jong. Em outras palavras, a Alemanha não tem um De Jong, a Alemanha não se defende como se defende o time de De Jong, não nega os espaços como o time de De Jong, e justamente por isso Messi e cia deverão ter mais espaços para atacar ou contra atacar.

Veja bem, não estou dizendo que a Holanda é mais time que a Alemanha. Não é isso. Coletivamente, a Alemanha tem mais time. Muito mais. É muito mais equilibrada entre seus setores. O que estou dizendo é que, ao contrário da Holanda, a Alemanha "deixa" o adversário jogar. Vai pra cima com o time todo, e consequentemente oferece espaços ao adversário. Portanto espero um jogaço aberto, lá e cá, com muitos gols (desde que os goleiros não fechem as porteiras), ou ao menos com várias chances criadas, ao contrário de Holanda 0-0 Argentina. E, convenhamos, a Copa das Copas merece uma final assim. Se essa expectativa vai se confirmar ou não, só saberemos no domingo, a partir das 16h.

domingo, julho 06, 2014

Hora de tirar as cartas da manga

Na Copa das Confederações o Brasil jogou no 4-2-3-1, com Luiz Gustavo e Paulinho volantes, Hulk na ponta direita, Neymar na ponta esquerda e Oscar por dentro, atrás de Fred. Já na Copa do Mundo, Felipão optou por Oscar fechando um das beiradas sem a bola, para deixar Neymar solto para decidir. Para mim, como você sabe (escrevi sobre isso), esse "sacrifício" do meia do Chelsea - um jogador coletivo, que faz o time jogar, em nome da capacidade de decisão de Neymar - nunca valeu a pena, e evidentemente não é agora, sem Neymar, que vai valer.



Felipão não tem motivo para escalar Oscar pela beirada agora. Ainda mais porque Willian, o provável herdeiro da vaga de Neymar no XI (da vaga, não necessariamente da posição), é um ponta-esquerda nato. Lembre-se, Willian foi ponta-esquerda durante seus vários anos de Shakhtar, e só não joga na ponta esquerda no seu clube atual porque no seu clube atual tem um tal de Hazard. Portanto, se Felipão pensa em jogar no 4-2-3-1, não há motivos para não escalar Oscar por dentro e Willian à esquerda (em especial Oscar por dentro). Não vou ficar surpreso, contudo, se Scolari colocar, sei lá, o canhoto Hulk à esquerda, para duelar com Lahm, Willian por dentro, e Oscar à direita.

Quem decide é o técnico, claro. Mas só para deixar clara minha opinião, eu iria no 4-2-3-1, com Oscar pela faixa central e Willian aberto na esquerda, além de Luiz Gustavo e Fernandinho volantes, e na ponta direita... Bernard.

E Hulk, Carlão? Iria com Hulk falso nove, e deixaria Fred na reserva. Pelo seguinte: acredito que a Alemanha terá mais posse de bola, e que o contra ataque pode ser uma arma fundamental do Brasil. E, convenhamos, com todo respeito, na hora do contra ataque Fred mais atrapalha do que ajuda. Ah, tem uma coisa. Hulk não sabe jogar de costas para o gol. É verdade. Justamente por isso falo em "falso nove". O atacante do Zenit não jogaria ali para fazer o pivô, mas sim para ser peça importante na hora de contra golpear.

Não menos importante seria Bernard. Pelo seguinte: com Willian na ponta esquerda, Oscar na faixa central do 4-2-3-1, e Hulk improvisado como falso nove, sobraria a ponta direita, região do campo onde atua Höwedes, o lento e pesado zagueiro alemão improvisado na lateral esquerda. Como a linha de zaga alemã joga adiantada, e Höwedes sobe sim ao ataque (sem perigo, mas sobe), a velocidade às suas costas deve ser uma jogada explorada pelo Brasil. E uma vez que nessa hipótese Hulk seria o centroavante, Oscar o meia-central e Willian o ponta-esquerda, restariam no elenco "apenas" dois nomes indicados para jogar pelo flanco direito: Ramires e Bernard. E uma vez que Bernard é mais ofensivo que Ramires, e que Höwedes não assusta tanto no ataque, creio que Bernard seria o nome mais indicado para explorar os espaços às costas do lateral-esquerdo da Alemanha.

Enfim. Eu escolheria esse time (veja aqui). Dessa forma, Luiz Gustavo bateria de frente com Kroos, Fernandinho com Khedira, e Oscar com Schweinsteiger. Isso se Löw repetisse a meiuca que enfrentou a França, nas quartas (veja aqui). Como disse, entretanto, mesmo sem Neymar, não vou me surpreender se Felipão seguir "sacrificando" Oscar. Desde o começo da Copa está nítido para mim que sua visão de futebol é diferente da minha. Mas é óbvio que a minha visão de futebol não importa nesse caso, o que importa é a visão de quem está no comando, e esse alguém é Luiz Felipe Scolari. E obviamente ele tomará as decisões que julga serem as melhores para o Brasil.

Aliás, mais do que nunca o trabalho de Felipão será posto à prova, pois o cara que decide sozinho não está mais lá. Mais do que nunca o time terá de se apresentar como time na essência da palavra, terá de ser mais coletivo e menos dependente de um jogador. Mais do que nunca, é a hora do famoso dedo do treinador. Resta-nos aguardar para ver quais cartas ele tem na manga.

quinta-feira, julho 03, 2014

Pré-jogo de França vs Alemanha

Neuer não é louco. Na partida diante da Argélia, pelas oitavas de final, ele não atuou praticamente como líbero só para sair bem na foto. Suas saídas do gol, providenciais, diga-se de passagem, se fizeram necessárias, uma vez que a lenta e pesada zaga alemã jogou bastante adiantada, lá em cima, para que o time ficasse compactado. Contra os argelinos, deu certo. Contra os franceses, pode significar a eliminação.

Na minha visão, Löw faz uma cópia mal feita do Bayern de Guardiola e da Espanha de Del Bosque. Já escrevi sobre isso, inclusive (leia aqui). Mas o que mais me incomoda, confesso, não é nem a cópia na cara dura. O que mais me incomoda não é nem a presença de Lahm no meio campo. O que mais me incomoda, eu acho, não é nem a opção por dois zagueiros de ofício nas laterais. O erro maior de Joachim, a meu ver, está na escolha de meias nas pontas. Repare na diferença: os dois pontas da Alemanha são meias (Özil e Götze); já os pontas da França são pontas (Valbuena e Griezmann).



A jogada francesa, convenhamos, está mais do que anunciada: Valbuena e Griezmann puxando os contra ataques, com espaços siderais às costas dos laterais alemães. Como o time alemão valoriza a posse de bola e joga lá em cima, inevitavelmente seu campo defensivo fica vazio, apenas com Neuer fazendo aquele papel de líbero, digamos assim. Logo, na velocidade, é muito provável que os ponteiros da França ganhem praticamente todas da lenta e pesada linha de defesa da Alemanha. E se Neuer não estiver na ponta dos cascos como esteve contra a Argélia, vai catar cavaco, vai ficar a ver navios.

Da Alemanha, não se pode dizer o mesmo. Não se pode esperar essa velocidade toda. Uma vez que seus pontas são meias de ofício, o jogo tende a ser concentrado pela faixa central, ainda mais quando seus laterais têm dificuldade para chegar à linha de fundo. Veja bem, não que Boateng e Höwedes sejam proibidos de chegar à linha do fundo. Não são. Imagino que não são. Porém é inegável que essa não é a praia deles. Em contrapartida, é verdade, a equipe treinada por Löw deve ter a superioridade numérica no meio campo, pois Götze e Özil naturalmente se aproximam por ali. Contudo, não tenho dúvida de que Deschamps preparou seu time para anular a troca de passes alemã, ou ao menos neutralizá-la. Ou seja, é provável que o trio Cabaye, Pogba e Matuidi mais marque do que ataque (sem abdicar das escapadas de Matuidi, claro).

Segundo meu palpite, você sabe, passa a França, justamente pelos fatores apontados nesse post. Mas como você sabe também, futebol é futebol, e no mata-mata qualquer um pode matar, qualquer um pode morrer. Só para deixar claro, não acho que a França seja essa favoritaça toda. Não é isso. Porém, a julgar pelas teimosias de Löw (se Schürrle for titular, por exemplo, a história muda um pouco), e pelo desempenho francês diante da Nigéria, em especial no segundo tempo, com Griezmann na vaga de Giroud, acredito que a França tenha sim um ligeiro favoritismo. Se será confirmado ou não, saberemos nesta sexta, quando a bola rolar no Maracanã, a partir das 13h.