segunda-feira, janeiro 12, 2015

Ancelotti, o campeão moral de 2014

O título pesa. Tanto é que Löw foi um dos três finalistas na eleição da FIFA. Para mim, com todo respeito, uma piada. Costumo dizer, aliás, sem querer pegar no pé, mas já pegando, que a Alemanha ganhou a Copa do Mundo apesar de Löw. Dito isso, o título pesa. E não tenha dúvida de que pesou a favor de Ancelotti, o técnico que liderou o Madrid na conquista da Décima. O que mais credita Ancelotti ao título de Melhor Treinador de 2014, no entanto, em minha opinião, não é o título da Champions League em si, e sim a maneira como o Madrid atuou antes e depois dessa conquista. Em outras palavras, antes e depois das saídas de Alonso e Di María. E das chegadas de Kroos e James.

Pois Carlo Ancelotti perdeu duas peças fundamentais em sua engrenagem. Quando sua equipe engrenou de vez, por sinal, Florentino Pérez abriu sua banca de negócios e vendeu dois de seus principais jogadores: o primeiro volante e o extremo-esquerdo. Pois quando Ancelotti encontrou o chamado XI ideal, no 4-4-2 em linha, Alonso formava a dupla de volantes com Modric, e Di María era o winger pela esquerda, enquanto Bale era o winger pela direita, e Ronaldo e Benzema formavam a dupla de ataque. Eis que, de repente, um dos melhores primeiros volantes do mundo (Alonso) e o melhor winger do mundo (Di María) foram negociados. E Ancelotti ficou a ver navios.



Mentira. Não ficou a ver navios. Chegaram dois excelentes jogadores. Dois craques. Kroos e James. Em tese, um para substituir Alonso, e o outro para substituir Di María. Em tese, não. Na prática mesmo. E foi aí que entrou o dedo de Ancelotti, já que as características dos atletas (entre Kroos e Alonso nem tanto, mas entre James e Di María, obviamente) são bastante diferentes. Ele perdeu um winger nato, recebeu um meia clássico e ouviu do presidente: se vire! Aí ele se virou. E reinventou o time. Talvez hoje o único time capaz de mesclar dois estilos de jogo com eficiência. Talvez o único capaz de atuar tanto no contra ataque quanto na manutenção da posse de bola com a mesma excelência. Capaz de executar tanto transições ofensivas, velozes e furiosas, quanto trocas de passes, pacientes e precisos. Talvez o único time do mundo na atualidade capaz de praticar as duas filosofias do jogo com a mesma maestria.

Tudo isso sem deixar a peteca cair, diga-se. Tudo isso, todo esse período de transição, que não é nada fácil, sem deixar o nível oscilar. Tudo isso em pleno 2014, entre as temporadas 2013/14 e 2014/15. Tudo isso, claro, graças ao seu trabalho, mas graças também a Toni Kroos, uma vez que ele chegou e fez seus companheiros de time e a torcida esquecerem Xabi Alonso em pouco tempo. Pelo menos tática e tecnicamente, o alemão caiu como uma luva. Sem dúvida, facilitou a vida de Ancelotti. Ainda assim, é digna de elogios essa transição feita pelo treinador italiano. Um pouco, vá lá, em relação à troca de Alonso por Kroos, mas muito em relação à adaptação de James, que chegou para substituir nada menos que Di María, o melhor winger do planeta. Tudo isso sem deixar a peteca cair, sem baixar o nível. (Sem falar em Isco, que está voando e pode/deve tomar a vaga de James no chamado XI ideal.)

Por essas e outras, entendo que foi mais do que justa a escolha de Ancelotti como Melhor Treinador de 2014. Não só pelos troféus conquistados pelo seu time (Copa do Rei, Champions League e Mundial), mas fundamentalmente pela maneira como esse time, em meio a duas trocas de peso, conquistou esses troféus. Não só pelos títulos, mas fundamentalmente pela manutenção do alto nível, em meio a duas substituições de peso. Ou melhor: manutenção, não. Evolução. Porque dá para dizer que o Real Madrid do segundo semestre de 2014, o Real Madrid de agora, com Kroos e James (Isco), é mais time que o Real Madrid do primeiro semestre de 2014, com Alonso e Di María. Ou não dá? Acho que dá, sim. Mas enfim. Seja como for, o fato é que o título de melhor treinador do ano passado está em ótimas mãos.

EM TEMPO: Como você notou, esse texto já estava pronto. Foi feito antes do anúncio do vencedor do prêmio. Löw foi eleito. Eu sei. Mas resolvi publicá-lo mesmo assim, primeiro por motivo de preguiça, segundo de revolta, e terceiro porque ele expõe bem minha opinião sobre o assunto e sobre Ancelotti.

Um comentário:

Marcos Martins disse...

Concordo com tudo. Ancelotti é um grande treinador, seu time é como se fosse um organismo vivo, mas ainda vejo que Simeone merece mais parabéns pelo trabalho.

Veja bem, o argentino tem muito menos condições de formar uma boa equipe com ótimas peças. Ancellotti merece e deve ser louvável pelo que faz, é simplesmente sensacional, mas Simeone conseguiu com recursos bem menores, sem contratar os craques do momento fazer uma equipe que bate de frente e ganha de Real Madrid e Barcelona.

Seus jogadores ele mesmo faz e torna craques como o Diego Costa ou o promissor Gimenez. Contudo uma coisa é certa os dois são mais técnicos que o instável Löw.