sexta-feira, novembro 27, 2015

4-1-4-1 > 4-2-3-1

"Passou o momento." Foi o que disse Tite sobre o 4-2-3-1. Em contrapartida, na entrevista publicada hoje no site da Folha (leia aqui), o treinador falou que o 4-1-4-1 é "agressivo" e "criativo". Não com essas palavras, mas você que me segue no Twitter deve ter percebido que eu tenho batido nessa tecla de uns tempos para cá.



Evidente que você ainda vê times jogando no 4-2-3-1, inclusive na própria Europa. Em especial na Inglaterra (o que me leva a desconfiar se isso tem a ver com o papel dos ingleses na Champions League recentemente). Mas o fato é que o 4-1-4-1 (o 4-3-3 compactado, com pontas alinhados aos meias) tem se mostrado o esquema tático mais condizente com o futebol de alto nível que se joga hoje em dia. O 4-2-3-1, digamos, é muito 2010.

Aliás, falando em 2010, é bom lembrar que a maioria dos treinadores brasileiros precisou da Copa do Mundo da África do Sul para "descobrir" o 4-2-3-1 (uma nítida evidência de que eles não assistiam ao futebol europeu pela TV fechada). Foi só a partir de então que o esquema começou a se disseminar pelos times brasileiros, sendo hoje, quase 2016, ainda, o sistema mais utilizado por aqui. Raros times jogaram o Brasileirão 2015 no 4-1-4-1, por exemplo. O campeão Corinthians de Tite foi um deles; o Cruzeiro de Mano também o adotou (não à toa, são os dois melhores treinadores brasileiros da atualidade); sem falar no São Paulo de Osorio, e no Atlético-MG de Levir em alguns momentos. Mais algum? Não me lembro.

Claro. Esquema tático sozinho não ganha jogo. O que realmente importa é o funcionamento do time. O esquema estrutura, mas sem ideias de jogo não significa muita coisa. E é aí que entra o famoso dedo do treinador. (E vale ressaltar que sem certas peças você não consegue executar certas ideias, nem implantar certos esquemas.) No entanto a importância do esquema tático em si não pode ser diminuída, e as palavras de Tite me auxiliam nessa visão em relação ao 4-1-4-1 ser melhor que o 4-2-3-1. Mas qual a diferença? Por que o 4-2-3-1 ficou no passado e o 4-1-4-1 implica em algo moderno? - se é que você concorda com isso.

Na minha visão, entre outros fatores, pelo seguinte: o 4-2-3-1 ainda divide o meio campo em dois (volante e meia), um problema grave do futebol brasileiro nas últimas duas décadas, enquanto o 4-1-4-1 exige um meio-campista mais completo. E esse meio-campista mais completo, mais versátil, que "defende" e "ataca" com eficiência semelhante, representa o que há de moderno no setor mais crucial do time (o meio campo). A tendência do 4-2-3-1, na verdade, é virar um 4-4-1-1, com wingers alinhados aos volantes na fase defensiva, e o meia-central (camisa 10), que joga atrás do centroavante, virar um segundo atacante. Ou seja, o camisa 10 vira mais um segundo atacante, e a criação está mais na faixa dos volantes (o que configuraria um 4-4-2 em linha). Por essas e outras, o 4-1-4-1 é o mais equilibrado, em todos os sentidos. E as palavras de Tite endossam ainda mais essa opinião, embora não exista uma verdade absoluta.

quarta-feira, novembro 18, 2015

Pontas de ponta na Seleção

Willian sempre foi ponta-esquerda e Douglas Costa sempre foi ponta-direita. Nos tempos de Shakhtar, em diferentes momentos, o posicionamento inicial deles sempre foi este: destro à esquerda e canhoto à direita, como mostram estas quatro pranchetas do Futebol de Botão (veja aqui, aqui, aqui e aqui). No entanto, como você sabe, Willian costuma jogar à direita no Chelsea e Douglas Costa à esquerda no Bayern. Por quê? Simples: porque no Chelsea tem um tal de Hazard e no Bayern tem um tal de Robben.

Okay. A explicação não é tão simples assim, em especial no que diz respeito ao time de Guardiola. Mesmo sem Robben no XI, Douglas Costa cansou de jogar aberto na esquerda nesta temporada. Mesmo sem Robben na equipe, Götze e Coman (e Müller) atuaram na ponta direita, enquanto Douglas seguiu na esquerda. Essa escolha, porém, está ligada à estratégia do treinador. Na ponta esquerda, o canhoto Douglas Costa gera amplitude e profundidade, e pode cruzar para matadores como Müller e Lewandowski, por exemplo. Já na Seleção, quando está aberto no flanco esquerdo, ele não tem para quem cruzar (ainda mais quando o centroavante é Neymar, como foi no 3 a 0 sobre o Peru, nesta terça, na Fonte Nova). Sem falar que o time de Dunga ataca com poucos homens na área.



O fato é que Douglas Costa rende mais pela direita, assim como Willian rende mais pela esquerda. Mas como você sabe, no Chelsea e no Bayern, Hazard é o dono da ponta esquerda e Robben o dono da ponta direita (e ainda assim, mesmo "fora de posição", Douglas Costa e Willian voam na Inglaterra e na Alemanha). Na Seleção, porém, fica evidente – e a partida contra o Peru foi sintomática – que essa é a melhor opção. Porque com as pernas invertidas (canhoto na direita e destro na esquerda), o ponta de qualidade – como são Willian e principalmente Douglas – entra na diagonal driblando e criando ângulo para o passe ou para o arremate com a parte de dentro do pé bom (sem falar na abertura do corredor para o lateral subir).

Portanto, uma coisa é mais do que certa: a ponta direita da Seleção deveria ser de Douglas Costa. Disso, não tenho dúvida. Daqui até a Copa 2018. Em contrapartida, só não cravo a mesma coisa em relação a Willian na esquerda porque o Brasil já possui o melhor ponta-esquerda do planeta, e ele atende pelo nome de Neymar Jr. Isso mesmo: o melhor ponta-esquerda do planeta. Como falso nove ou até segundo atacante no 4-4-2, por exemplo, Neymar é um ótimo jogador, pois é (muito) craque e se adapta bem. Mas como ponta-esquerda, o destro Neymar destrói. É o melhor do mundo na posição. Logo, não me parece inteligente tirá-lo dali, por mais que a crise da camisa nove seja inegável e preocupante. Em outras palavras, de uma coisa eu tenho certeza: independente do esquema (4-2-3-1 ou 4-1-4-1) e das outras peças, a Seleção deveria jogar com Douglas Costa na ponta direita e Neymar na ponta esquerda. Disso, meu caro, não tenho dúvida.

PS: Guardiola já deu a deixa. Leia aqui.

terça-feira, novembro 17, 2015

O segundo melhor treinador brasileiro

Mano Menezes está, indiscutivelmente, entre os três melhores do Brasil. A afirmação é bem atual, contudo foi escrita há oito anos, em novembro 2007. Duvida? Veja aqui. Pois é. Você que me segue no Twitter sabe que admiro o trabalho do treinador do Cruzeiro desde os tempos de Grêmio, quando ele ajudou a levar o Tricolor da Série B (2005) ao vice-campeonato da Copa Libertadores (2007), com um time que tinha, veja você, Saja no gol, Patrício na lateral, Sandro Goiano no meio campo e Tuta no ataque.

O Grêmio de Mano, por sinal, já jogava no 4-2-3-1, esquema tático que só virou moda no Brasil após a Copa 2010. Ou seja, enquanto Mano adotava o que havia talvez de mais moderno no futebol mundial em 2006, a maioria dos distribuidores de coletes que habitam o futebol brasileiro precisou da Copa do Mundo da África do Sul para “descobrir” o 4-2-3-1 – esquema que hoje, em pleno 2015, encontra-se, digamos, obsoleto, embora a maioria das equipes por aqui ainda o adote e o execute de modo equivocado.



Modinha. Falar mal de Mano no Brasil virou modinha. Devido a sua passagem pela Seleção, quando foi apunhalado pelas costas pelos mandatários da CBF e foi substituído por Felipão, e devido à maneira de como saiu do Flamengo, falar mal de Mano virou modinha, virou um esporte nacional, endossado pela imprensa nivelada por baixo, que predomina no futebol brasileiro. No Brasil tudo é levado para o lado pessoal, e com Mano não foi diferente. As poucas pessoas que conseguem analisar o trabalho de campo e bola e não apenas os resultados, no entanto, sabem que Mano fez um bom trabalho no Grêmio, no Corinthians (inclusive em 2014), na Seleção (foi mandado embora quando estava encontrando o caminho) e no próprio Flamengo (acabou campeão da Copa do Brasil).

Graças aos resultados obtidos pelo Cruzeiro (lembre-se, o resultado qualquer idiota analisa), espero que agora torcedores e jornalistas parem de pegar no seu pé, reconheçam o valor do seu trabalho e compreendam o tamanho de Mano Menezes no futebol brasileiro – um dos três melhores treinadores do país desde 2007, hoje atrás apenas de Tite (pelo menos na minha cabeça, indiscutivelmente). Quando foi contratado pelo Cruzeiro, aliás, eu disse que o time azul de Minas iria certamente brigar pelo G4. Mas pelo G4 do Brasileirão 2016, pois futebol não se faz da noite para o dia (confira aqui). Porém como o futebol brasileiro é uma enorme briga de foice no escuro, pode ser que essa previsão se confirme com um ano de antecedência, em função da qualidade do elenco e do treinador - e da ruindade dos adversários.